Estamos interconectados apesar de vivermos em uma sociedade para a qual muito interessa nos convencer de que devemos focar em cuidar exclusivamente de nosso núcleo familiar, pois isso e mais rentável e produtivo para o sistema.
Dizemos “Eu vivo do meu trabalho”, será? E do trabalho de mais quem? E mais quem vive do meu trabalho? Vivemos do trabalho de milhões e trabalhamos para outros tantos, muitos.
A verdade é que vivemos em rede e é impossível ser diferente, então o jeito é sermos mais conscientes disso e pararmos de acreditar que muros altos vão nos tornar protegidos e felizes.
Tanto quanto as redes, com conflitos são inerentes à vida, justamente porque ela é viva, se modifica, passa por crises, gera atritos, se movimenta.
Uma vida que cuida da rede de relações que a envolve, uma vida com tempo para o auto-cuidado, para o cuidado do outro, cuidar da saude, da alimentação - sabemos da importância de tudo isso, mas no geral o ritmo frenético da vida nos engole, porque na prática, efetuar as mudanças necessárias para que isso se torne realidade é um enorme desafio, que envolve sairmos da nossa zona de conforto, de padrões aprendidos e nos dispormos as relações que nos rodeiam, incluindo os conflitos inerentes à elas.
Quem são os seus vizinhos? Quem produz sua comida? Como vivem essas pessoas?
Quando pensamos em toda a rede de relações ativadas pela nossa presença no mundo, não podemos esquecer dos agricultores e agricultoras.
70% do alimento do Brasil é proveniente da agricultura familiar. No mundo esse valor sobe ainda mais, 80% do alimento do mundo! Estamos falando do profissional do qual dependemos pelo menos 3x por dia. E geralmente como vivem essas pessoas tão importantes para a nossa vida?
Sem férias, com salários baixos, condições de vida desafiadoras, filhos em escolas de baixa qualidade e por isso mesmo, querendo sair do campo. E o que acontece se não tivermos jovens interessados em ficar no campo produzindo alimentos?
O que acontece se dependermos dos grandes produtores? Do agronegócio?
Sabem aquelas imagens da sua mesa com e sem abelhas?
É a mesma coisa com e sem agricultores familiares.
Nos cabe então nos perguntarmos, já que entendemos que nossas ações geram realidades, o que está ao nosso alcance fazer para que ser agricultor seja uma profissão digna, um futuro digno.
Como vamos fazer para mudar isso?
O Atual modelo de produção e distribuição de comida
É um modelo que inclui comida enquanto produto. E comida não pode ser encarada como produto. Comida deveria ser um direito! Comida precisa ser olhada no sentido da soberania alimentar.
A quantidade de comida desperdiçada no mundo hoje é exorbitante. UM TERÇO de todo o alimento produzido no mundo vai para o lixo! Enquanto 815 milhões de pessoas sofrem de FOME crônica! Em pleno 2019.
Por quê?
Porque sustentamos com nossos hábitos um sistema que produz muito mais do que vai para a mesa. Um sistema que se colhe sem saber qual porcentagem vai realmente virar alimento, um sistema que tenta ter brócolis o ano inteiro, porque encara as pessoas como consumidores, que precisam ser agradados e para isso enchemos o solo de químicos, que polui águas, lençol freático e nutre alimentos disso e, claro, nos nutre disso. Ou seria mais apropriado dizer, nos envenena com isso?
Com esse sistema, aquela pergunta de: seria possível alimentar o mundo com alimentos orgânicos? Realmente, desse jeito, não. Um sistema que conta com muito mais produção que o necessário, que conta com um terço de perdas, realmente parece inviável.
Aliás, seja orgânico, seja convencional, pelo que temos de dados reais do mundo.
Em um de seus livros Rudolf Steiner afirma que para um mundo saudável ser possível os meios de produção só deveriam custar algo enquanto a coisa está sendo produzida. Depois de prontas as coisas deveriam ser colocadas à disposição para a sociedade,
Afinal, já estariam pagos e garantindo uma vida digna para todas as pessoas envolvidas com a produção.
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